domingo, 19 de novembro de 2023

ANTIGOS ASTRONAUTAS ENTRE NÓS

 


 

   Na aula de astronomia avançada, certo aluno está vendo em sua tela a descrição de uma borboleta da Amazônia, com parte de sua atenção voltada para o seu professor também. O professor o olha, enquanto fala para a turma, e ele sente que está sendo observado, com um movimento de olhos, ele o vê também. A palestra está sendo dada no mais novo anfiteatro, construído em formato de semi arena, onde os alunos ficam acima de seu professor e de sua enorme tela ao fundo, onde eles veem a projeção de um buraco negro e a forma como ele age com a matéria e a luz ao seu redor. Apesar de nevar forte, há muitas semanas, a sala está muito bem aclimatizada, mas, mesmo assim, as imagens de uma borboleta na Amazônia, para este aluno, parecem mais agradáveis do que aquele lugar. Como um refúgio mental para o tempo adverso que está lá fora. Caligo telamonius memnon, conhecido também como a coruja gigante, é na verdade uma espécie de borboleta que pode chegar a medir dezoito centímetros. Acredita-se que por suas asas terem o desenho da face de uma coruja, com destaque para os olhos enormes e abertos, ela possa enganar seus predadores, mimetizando para confundi-los, eles hesitam em se aproximar da frágil borboleta e, com isso, ela pode descansar, se alimentar e acasalar. Memnon descrito como o rei da Etiópia, filho de Titono e da deusa Eos, temido por Aquiles, era conhecido como “o gigante negro”, e lutou com os troianos na Guerra de Tróia. Quando foi morto por Aquiles, Zeus o fez imortal por causa de sua mãe. 

   O professor, abruptamente, interrompe a sua aula e olha com atenção para os seus alunos. Eles estão, todos, com suas cabeças levantadas para cima, como se olhassem para o teto, ele sabe o que eles estão fazendo. Ele está ouvindo a mesma voz em sua cabeça, que eles estão ouvindo, mas por ser mais evoluído que seus alunos, ele não precisa se dar ao trabalho de parar o que está fazendo para receber uma mensagem telepática. Em Iliun, onde a expectativa de vida ultrapassa facilmente os duzentos anos, ao chegar a plena maturidade, o que lá é considerado, em média, que seja entre sessenta e setenta anos, os indivíduos dominam com maestria dons como a materialização, leitura de aura, projeção astral ou mental, bilocação (estar em diversos lugares ao mesmo tempo), clarividência, levitação, telepatia (comunicação direta e a distância através do pensamento), telecinesia (movimentar, manipular ou exercer força sem interação física), precognição e retrocognição, visão remota e o ilusionismo genuíno, que é a capacidade de criar ilusões, com força o bastante, para controlar a mentes de seus alvos, este último usado com frequência em suas apresentações artísticas e em missões de contato com habitantes da Terra. A capacidade de realizar com perfeição o dom de bilocação é o primeiro requisito para poder participar destas missões, afinal, a máquina que torna possível o contato entre os dois universos apenas facilita esta ação. Mas, de modo geral, todos tem que saber lidar com vários dons para poder viajar para o nosso Universo. 

_Kall, prepare-se você, pelo jeito, você irá conhecer a borboleta que você procura. 

   Duas batidas são ouvidas na porta, em seguida dois homens entram na sala e pedem licença para o professor, a tela atrás dele desaparece, se desmaterializando. Eles se apresentam como funcionários da Corporação, conhecida simplesmente assim por ser o maior empreendimento já realizado no universo e com o apoio de todos os povos.  

_Bom dia, senhores e senhoras. Vocês ouviram o nosso comunicado, estamos recrutando todos que estiverem interesse em trabalhar conosco. Vou lhes pedir um favor, aqueles que têm fluência em línguas latinas, em especial o português e espanhol, e estejam interessados nesta oportunidade: venham comigo, agora. 

   Duas dúzias de aulos se levantam e entre eles está Kall, assim como Memnon, ele é muito alto e é o que tem a pele mais escura da média das pessoas que ele já conheceu. Antes de os acompanharem, os alunos são questionados, um a um, se o interesse por trabalhar com eles é sincero ou se há alguma má intenção da parte deles, ao que todos respondem afirmativamente sua vontade sincera de trabalhar na Corporação, para o bem de todo o Universo. O que parece uma pergunta sem propósito, em meio a estes seres ganha um novo sentido, através da leitura astral, em geral, eles podem captar as reais intenções de seus candidatos, infelizmente, não é um dom infalível. Um grupo muito pequeno, mas de métodos muitos radicais, algumas vezes, conseguiram infiltrar um de seus membros dentro da Corporação, a um grande custo para eles, mas sempre na tentativa de sabotar o empreendimento, seguindo as suas convicções a respeito acreditavam ser o sentido da vida e a vontade de Deus. Para eles, seus conterrâneos infringiram muitas regras impostas por Deus, ao criarem um universo. que deste universo tenham surgido novas formas de vida, puras aberrações era o que afirmavam. Para estes a única coisa a se fazer, seria destruir o novo Universo e extinguir toda a vida vinda dele. 

   Então, na sociedade interplanetária que criou o nosso Universo se dividiam em dois grupos antagonistas: a imensa maioria que não se importavam com as implicações éticas em criá-lo e usar daqueles seres que ali surgiram (nós humanos e outras raças de outros planetas como o nosso, espalhados pelas galáxias) e aqueles que defendiam que o correto seria eliminar a tudo e todos que surgiram desse projeto, que consideravam profano, mas estes eram poucos. Aqueles que não se importavam, criam que não havia mal algum em usar vida de outro universo, que não seja for o seu, de forma indiscriminada e até predatória par atentar salvar seu habitat e seu modo de vida, por fim, o seu universo. Já os radicais alegavam heresia, desrespeito, a própria arrogância da ciência ao criarem o nosso universo, mas no fundo, eles reclamavam pelo fim de um período em que eles tiveram um protagonismo maior em sua sociedade interplanetária. A união dos cientistas com os paracientistas, formada para se tomarem as decisões mais importantes, a fim de salvarem o universo, tirou o protagonismo que os paracientistas  mais radicais, aqueles que não aceitavam dividir o seu poder de igual por igual com aqueles que não pertencessem a seu grupo, tinham no final do período conhecido nos seus livros de História como a era de ouro, vivida por todos os povos deste universo.   

   Dentro do próprio edifício em que o grupo que caminha de sua sala de aula para a estação de transporte superveloz, de duas vezes a velocidade do som, que os levará para a base onde o transporte entre dimensões é realizado. Esta base distante trezentos quilômetros em sentido ao equador e a outros cem quilômetros abaixo da superfície, somente aonde tal experimento seria possível por questões relacionadas a proximidade com a crosta do planeta. Pela primeira vez, o homem que os recrutou se apresentou ao grupo, dizendo-lhe o seu nome: Seul. 

_Espero que todos tenha tido uma boa manhã hoje, porque daqui em diante nós vamos ter muito trabalho. Os selecionados terão um treinamento intensivo e entraram em contato com os humanos desde o primeiro momento, assim saberemos que está apto para nos ajudar nesse momento e quem ainda precisa de mais tempo para se preparar. Mas sinto que todos, de modo geral, estão muito perto do que precisamos agora. 

_Vocês já sabem o que fazemos na Terra, mas tenho que falar mesmo assim. Precisamos ter certeza de que os nossos objetivos sejam os mesmo que os seus: bem basicamente usamos nossos dons para manipular aquelas pobres almas, infelizmente a Terra é dos planetas que tem a evolução mais lenta de sua espécie dominante, chamamos eles de “humanos”.  

   Todos riem. 

 _Nós não podemos aparecer para toda aquela gente, mostrando tudo o que nós somos, pois faríamos ele perceberem o quanto são atrasados. Isso simplesmente, acabaria com essa espécie ou os fariam regredir em sua evolução pelo menos três nível na escala que usamos par avaliar os planetas daquele Universo, e isso não pode acontecer, ok? Mas nem tudo está perdido por lá, ainda assim alguns indivíduos diariamente evoluem espiritualmente e ao morrerem nos capturamos eles para nosso universo. 

_Esse é o nosso principal trabalho na Corporação, capturar almas para trazer para cá pois assim conseguiremos revitalizar a energia de nosso Universo, para que ele exista por mais uma eternidade. 

   Todos riem, novamente. 

_Temos nossas naves próximos à Terra que estão lá fazendo as pesquisar que usamos aqui, para decidirmos o que precisamos fazer por lá, temos enormes hangares par todo tipo de viagem. E sim, é verdade... Temos um hangar maior que a estação de esqui onde vocês passam suas férias, e tem um igual próximo a centro da Terra, inclusive foi usada muita força de trabalho humana a milhares de anos para nos ajudarem a construir nossa estação por lá. Nós a usamos para auxiliar as nossas naves em viagens dentro da atmosfera terrestre, entrando nos dois hangares, eles podem, ao mesmo tempo, estar próximos a superfície da terra em segurança, a nave num momento como esse fica simultaneamente em quatro lugares. E sim, dizem que as festas dentro dessas nas naves são épicas.       

   Um breve silêncio e Seul diz: 

_Só não podem se empolgar muito e querer ir dar um passeio pelo planeta Terra. Tudo bem, gente? (Risos) Kall. Soube que você foi o melhor nos treinamentos de bilocalização. Você começará primeiro, ok? 

   Na Corporação, Kall está sentado à frente de todos e atrás dele uma complexa máquina está ligada a um capacete, acima de sua cabeça. 

_Kall, este capacete vai encaixar na sua cabeça e apenas seu espírito entrará no plano espiritual do outro Universo. Você estará onde os espíritos dos humanos aguardam para voltar a terra em outro corpo ou para vir pra cá, quando alguns deles alcançam a evolução necessária. Você vai falar com uma jovem que está morta, mas precisa voltar para a Terra, você irá a ajudar a retornar para o corpo dela. Ela se chama Chris e, em alguns dias, ela fará um ato de enorme coragem que irá mudar os rumos da pandemia no Brasil, salvará inúmeras vidas, mas com isso ela irá morrer, definitivamente. Ah, e se apresente a ela com o nome de Haziel, ok? Não esqueça, ela acha que Haziel é o nome do anjo da guarda dela. 

   Vinte minutos depois ele sai do plano espiritual e o capacete é retirado de sua cabeça, ele está um pouco confuso, diz ter a impressão de ter ficado lá por dias, mas Seul o ensina que o tempo entre os Universo é muito diferente, sendo o universo dos humanos o que tem a passagem de tempo muito mais rápida que o deles, por isso a confusão. Em seguida, ele o leva para participar de uma viagem, ao plano terrestre, acompanhando-o para observar a Terra. Para mostrar a natureza humana, Seul o leva ao local onde está ocorrendo um assassinato. É noite e um homem está caminhando no meio da rua e leva um tiro de outro homem, que sai correndo dobrando a esquina, após isto, eles veem outro homem de mais idade, ao ouvir o tiro, ele corre em direção ao ferido e pegando-o em seus braços. Aí, então, Kall percebe que o anjo da morte estava próximo a eles o tempo todo, escondido nas sombras. Seul lhe diz que é assim os humanos se tratam, por isso não deve vê-los como seres iguais a eles, ensina-o, também, que pela configuração usada na máquina eles não podem ser vistos, se muito, alguns humanos podem sentir a presença deles. Em outro caso, Seul e Kall se materializam para dentro de uma nave que está voando sobre os campos, em alguma região do Brasil. Seul mostra como este serviço é importante, pois com o universo deles morrendo, a extração de plantas e animais é vital para a pesquisa que os levará a descobrir como realocarem, com sucesso, estes recursos ao seu universo, sem que estas plantas e animais morram após poucas semanas ao sair da Terra. 

  Por último, Seul o leva a oca de um povoado indígena da Amazônia para que ele possa ver a variedade cultural dos seres humanos na Terra, novamente eles não podem ser vistos. Seul avisa Kall que irá passar aos chefes do povoado uma mensagem telepática, para que eles não aceitem ser vacinados pelos médicos que ali surguirem, Kall não entende o porquê e Seul explica-lhe que está comunidade terá que ter muitas mortes, por está nos planos da Corporação, sem lhe explicar mais. Concluindo apenas que as decisões traçadas pela Corporação visam o interesse de seu Universo, apenas, e não ao bem da humanidade a princípio. Lá, na oca, Kall consegue ver o voar de uma borboleta entre as sombras causadas pelo fogo acesso, em torno daqueles homens e mulheres. Um ancião passa caminhando devagar próximo a ele, como sem saber de sua presença junto a eles. Ao tirar sua atenção da borboleta, Kall vê que o ancião está parado a sua frente, como que observando-o, e ao apertar os olhos como para vê-lo melhor, o ancião sorri e lhe mostra os dentes. Kall olha para Seul, que lhe dá de ombros por não saber, também, o que está acontecendo. Ao vê-lo, novamente, o ancião levanta o dedo em direção ao peito de Kall, então, ele já não sorri mais, mas levanta seus braços e agita-os em demonstração de raiva, fazendo o estudante dar passos para trás e por fim perder a conexão que tinha de seu corpo com a Terra. 

   Ao ser atendido nas instalações da Corporação, um dos auxiliares de Seul diz a Kall que ele deve ter ficado zonzo com o cheiro da fumaça e das ervas de dentro da oca, diz que, ele mesmo já havia se sentido incomodado com aquele cheiro. Todos riem na sala, menos Seul que o olha com atenção. Os alunos são separados por grupos que ficam a cargo de outros instrutores. Kall se despede de Seul, mas antes recebe a ordem de continuar a proteger Christiane, agora na Terra.