sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

FLOR DA PRIMAVERA

ELE esperava Gislene ansioso na pracinha. Escadas levavam para o centro, entre elas, grandes canteiros com flores. Ele a esperava num dos banquinhos que ficavam no entorno da praça. Meia hora atrasada. Por ela, isso não era nada. – Já acostumara com seus caprichosos. – uma mensagem veio: “já estou chegando, bjos”. Tá bem. Pessoas passavam por ele aos pares. Flores nos canteiros. Ônibus passavam nas ruas e faziam barulho. Ao longe ele já a via descendo a rua. Ela era mulata, de cabelos compridos que iam até os quadris, com pernas finas e bem torneadas. Olhos castanhos esverdeados. Andava como uma cantora de axé, com muito rebolado. Foi ao encontro dela – oi – sentiu o seu cheiro, um ótimo perfume, beijou-a e foram caminhando. Conversavam. Ela com seu braço enganchado no dele. Pareciam fazer um casal bonito. Elegante e sensual.
Ele, Carlos, perguntava de sua irmã, sua mãe, seu trabalho, as amigas,... Entraram no hotel e pegaram um quarto simples, de duas horas. Subiram lado a lado as escadas até o terceiro anda, no caminho ele ia pensando em como aquela recepcionista era sempre simpática. Mais beijos. Ele abriu a porta e deixou-a entrar. Beijou-a e senti o corpo dela, Gislene, em suas mãos. Era quente e macio. Pegava em seu ombro e pescoço com a mão esquerda, enquanto abraçava sua cintura com a outra e descia-a procurando novos contornos. Os olhos dela vibravam em êxtase, se esforçando para não fechar. Eles fechavam e voltavam a abrir-se para vê-lo.
Caíram na cama e ele, antes, ligou para a recepção e pediu vinho. Perguntou para ela se queria tomar alguma coisa. Um suco? Água? Não, ela não queria. Voltaram a tocar os lábios, mordendo e beijando cada centímetro de pele. Suas mãos colaram ao corpo, um do outro, na procura insana de descobrirem-se, perderem-se de si no contato com o diferente. Os seios pequenos de Gislene roçavam o peito, estufado de ar e paixão, de Carlos. Suas pernas cruzavam, freneticamente, tentando fazer o que as mãos e os braços faziam ao cobrirem o outro corpo. As roupas foram saindo como entraves que não deveriam estar ali.
O vinho chegou e ele foi abrir a porta só de cueca. Só quando fechou a porta foi que se deu conta que a mulher o viu quase nu. Devia ser normal para sua profissão. Encheu o copo e bebeu ao pé da cama. Olhando-a em sua esplendida beleza, nua e sensual deitada na cama. Dois goles e voltou para ele mais ofegante, arrependido de tê-la deixado esperando. Que se foda o vinho. Encostaram a cabeça um no outro, de frente, cruzando seus narizes. Dividindo o ar que respiravam. Sentindo a respiração. Ele bufava de excitação, se segurava para não penetra-la. Sentia o sangue de Gislene correr pelo corpo, ardendo em febre. E então sentiu AQUELE MOMENTO e disse para si mesmo: É AGORA.



CWB
Jun/2007

O VINHO TRANSBORDOU DO COPO

GOSTO da Pan. Ela me fez sair desse mundinho besta que eu entrei. Fez-me querer ser melhor. Mas sem me forçar a ser careta, mesmo ela sendo muito responsável no cuidado de seus dois filhinhos. Camila e Vinícius. Eu bem que poderia ser o pai daquelas crianças... Bem, cheguei à festa do casamento e acendi um cigarro. uma dose de destilado seria ótimo, só que o pessoal lá toma é cerveja. Muitas. na frente da casa havia muitos carros, na garagem e por todo quintal já estavam todos lá. bebendo, comendo e fumando. Clara estava lá.

Clara estava na entrada da casa, próxima do portão, terminava seu cigarrinho quando veio me cumprimentar com aquele seu abraço sincero que só ela tinha, me perguntou o que eu estava fazendo – o de sempre. Trabalhando com meus textos, com meus quadros. Dormindo e bebendo muito – Lá pelas tantas, todos mais alcoolizados, felizes, sinceros, eu soube que estavam fazendo uma aposta absurda, queriam ver quem cairia de bêbado primeiro. Na última festa eu dormi sentado na cadeira, quando me acordaram, eu tentei me levantar e cai de testa no chão. Não quis me levantar mais e fiquei lá. Como uma criança dormindo no berço. Tive um rasgo horrível na testa que eu tapei com o boné durante uma semana.

Pan estava lá com a família (pai, mãe, irmã, avô, avó). Era uma verdadeira dama rodeada de mulheres e crianças. Estavam ao redor da pista de dança. Ouvimos de tudo: Creedence, Natirus, Chitãozinho & Chororó, enfim. Até funk teve. Foi quando ela se levantou e foi dançar. Pensei: cara, olha como ela dança. – Eu não aprendi a dançar, estava ocupado com coisas maiores. como disse Bukowski – mas era lindo vê-la. Pensei: ela dança como eu escrevo. Eu já a conhecia, tínhamos conversado e rido juntos. Eu adorei as coxas dela, os olhos bem azuis e os cabelos negros. Fui um voyeur vendo-a dançar à vontade. Seu olhar, logo, se encontrou com o meu e percebi que ela sorria para mim.

No fim da festa fomos tomar a saideira, uns chamavam-na de caideira, na casa do Felipe e da Cláudia. Felipe apostou em mim, 50 reais. E perdeu porque eu não caí. Ela foi no carro deles com as crianças e eu fui noutro. Pedro é um cara difícil de você não gostar. Ele me deu uma carona e ficamos conversando sobre o lendário bagulho da lata, até a hora que a sua mulher quis ir embora dormir. Esse bagulho tinha história, era uma maconha e diziam ter sido jogada no rio afim de dispensar o flagrante por um navio holandês, o que era verdade ou mentira era difícil saber, uns diziam ter fumando tabletes dessa maconha, outros que fumou apenas uma raspa dela mas que foi uma experiência incrível, de horas de pura alucinação. Quando vi isso já eram umas quatro da madrugada. No fim ficou para beber a última cerveja eu, Felipe e a Pan. Dois cariocas, parentes, e foi sobre música que conversamos. Samba. Quando ele foi dormir, nossos olhos se colaram. Daquele jeito. O meu e o da Pan. O escritor, aqui, teve pouco para falar naquela hora e ela parecia sem ação. Sabíamos o que ia acontecer, falei para ela sobre paixão e ela se rendeu. Nos beijamos e tudo fez sentido, naquela noite.


*


Mas no outro dia tudo deu errado. Quando eu acordei, Pan já estava fazendo papinha para Camila, no resto da manhã eu e Felipe ficamos assistindo a formula 1 enquanto ela e Cláudia lavavam a louça e preparavam o almoço. Uma garrafa de cerveja sobrou da noite anterior. conversávamos, apesar da ressaca coletiva, apenas as crianças estavam salvas. Pan dormira muito pouco, mas não bebera muito naquele casamento. E foi durante um bate papo massante entre pessoas que acordaram sob o efeito do álcool, que as coisas começaram a desmoronar. ela começou a questionar-me sobre minha vida, ela queria saber quando eu iria arranjar um emprego, por que larguei duas faculdades e por que eu bebia tanto. Três respostas hesitantes foram o suficiente para ruim a paixão. JESUS CRISTO! IMAGINE-ME CASADO COM ELA! SERIA UMA BRIGA DAS BOAS! E o pior é que ela devia ter alguma razão... ela ficou xoxa, é verdade. me aproximei dela depois do almoço e percebi que apenas o tesão por sexo ficara sob sua pele. Os dias que se passaram provaram que nem isto resistiu. Semanas depois nos encontramos, cada qual com sua nova companhia, entre dentes amarelos, nos cumprimentamos.

Fui pra casa e quando cheguei à soleira da minha porta, me vi retratado ali: entre cervejas espalhadas pela sala, dois caras estatelados no sofá esperando alguma coisa, livros e papeis , também, jogados por todos os lados. Na cozinha, duas amigas fazendo hora: esperando que o Caio, um dos caras, se levantasse e fizesse suas pequenas tatuagens. Dois quadros inacabados e um filhote de vira-lata. Por esse dias estavamos comendo o pão que diabo amassou quando o dinheiro da cerveja já era minguado e passávamos a destilados quase todos dias, ah! e o aluguel também atrasara e começaram as discussões e conversas com o locatário, o curso de pintura foi pras cucuias. Voltar a trabalhar carregando caminhões pra sobreviver se tornava necessário. ou serviços iguais, serviços de animais enjaulados. A poupança acabara, o sonho persistia bravamente. e a vontade de respirar tornou-se crime de vadiagem e inadimplência. Nem o Caio conseguia mais manter o ritmo de duas ou três tatuagens por semana. O Luís, o outro cara, ironicamente, era o único que tinha carteira assinada, só que gastava muito dinheiro na zona perto de casa... as meninas agradeciam.

que eu posso dizer: eu prefiro ser assim. prefiro, do que triturado passivamente por um subemprego, do que ser humilhado cotidianamente por uma relação desgastada. Que mais eu posso dizer sobre tudo isso: eu poderia ter amado aquela pequena, mais eu, ainda, me amo muito mais. Por isso, peguei minha cerveja na geladeira, cumprimentei as meninas e fui pro sofá. passava um bom jogo de futebol. depois, elas começaram a tomar batida de côco, a "Baianinha", pra criar coragem pra receber as agulhadas do Caio, fazer suas tatuagenzinhas. enquanto ele furava uma (quis dizer: tatuava, não vão pensar besteira!), eu xavequei a outra. ela tinha 1,80m, 10 a mais que eu. e fui pro banheiro com ela, dei uns amassos e fizemos sexo de pé ali mesmo. um sexo antianatômico, mas foi bom. muito bom.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

TRÊS DROGADOS

NÃO quero saber das suas pirações. somos todos muito iguais. iguais demais até. cada um contando sua vida louca como se fosse uma história épica. E não é assim, nós, apenas, somos escravos dessas nossas fraquezas. Eu pensava isso enquanto Bob (acho que não era esse o nome dele, não lembro e nem me importo), mas ele tinha cara de Bob, contava sua viagem no LSD.
_Foi incrível, cara. É.. É Paulo o seu nome, né? – fiz um movimento com a cabeça – Eu sentia o som da música entrando em meus ossos. E... – E ele continuou a falar, (ele era uma matraca histérica) eu me desliguei daquele papo todo e dei uma olhada em volta de onde estávamos. O céu fechado da madrugada, 3 e quinze, de um inverno fudido. Estávamos em três num carreiro de uma favela qualquer, era um corredor escuro que dava caminho de uma rua sem saída para outra que levava a uma área residencial de melhor qualidade.
_Ei. Preciso de um minuto para me situar...
_Todos nós precisamos, cara.
_estou me sentindo como naquele dia que tomei LSD...
Finalmente, Bob parou de falar e o meu amigo Fred teve seu minuto. Mas, aí, ele começou a caminhar no carreiro, indo e voltando. O barulho dos seus passos iam longe e começaram a me irritar, aquilo poderia chamar a atenção de algum morador que poderia ligar pra polícia e aí adeus noite de sono. Já aturrei muita gente chata só pelo barato de me drogar, Bob era o chato de pior tipo para ter ao lado quando se quer curtir essa porra. Disse estar mal para chegar em casa, podia encontrar alguém, lá, se levantando aquela hora. Sem mais nem menos ele foi e voltou, de novo, e se despediu. nós 2 despedimo-nos dele. Fred estava o tempo todo encostado na parede e agachado, tentando se sentir melhor. Saiu de sua boca um fino lampejo de voz, Bob escutou e voltou curioso.
_Você ainda tem aí, não tem?
_nao. Eu só tinha aquelas duas. Mas, se vocês quiserem, vou lá buscar mais. Olhei para Fred, esperando que ele tivesse algum dinheiro para mais uma correria.
_Putz! Eu tô com uns problemas em casa e...
_É, Fred. Não esquenta, chega de correria por hoje.
_É, você tem razão. Paulo.
Um longo e pesado silêncio. E depois o Fred perguntou se alguém queria ir embora. Foi minha deixa para me despedir deles, daquela loucura toda e ir para minha casa. Ele pegou sua bicicleta e o Bob falou que iria até a esquina com a gente e depois voltava, com medo de passarmos a perna nele e fazermos a correria sozinhos. Bob então falou que foi ao show do Raul e do Marcelo Nova, que jogou um baseadão no palco e que o Marcelo chutou longe. Três dias depois, o Raul morreu...


*


...e eu mesmo quase morri uma par de vezes por causa de uma longa vida à procura de drogas. e eu me despedi daqueles canalhas e continuei naquela esquina, quase 4 da manhã, voltei para o beco e prossegui. entrei depois de duas quadras mais à frente, virei a esquerda, prossegui mais duas quadras. estas ruas eu não gostava de andar, mas se não fosse A DROGA DAQUELA DOSE A MAIS, QUE CONSUMIA O MEU JUÍZO E MEU RESPEITO PRÓPRIO, eu teria ido dormir, como deveria ter feito. Cambaleie pela rua, não sei dizer por quanto tempo cansado, bêbado e drogado até que vi um pia de bicicleta vir em minha direção - me dei conta de onde veio, e do perigo que eu estava passando ali, ao longe três caras se encostavam na casinha da invasão, cheirando cola e me observando.
_ eaí, véio. quê o que aqui?
_ quatro pedras.
_ dá o dinheiro aí que eu busco pro'cê.
uma péssima idéia passou pela minha cabeça quando disse aquilo, então falei...
_ vamô fazê assim,... vamô junto, lá pega essa pedra!?
_ você quê í lá? não sei, plaboi, naum dá.
_ Tá, vou embora.
fui me virando, quando então...
_ Peraí,... vamô lá...
o cara saiu da bicicleta e caminhou junto comigo pela rua até a entrada do carreiro, contrariado. ele parou e continuou a conversa que estava tendo os caras quando me viu, conversavam como se eu não estivesse ali, ou melhor conversavam para eu ouvir mesmo, eram conversas sobre discussões que acabavam brigas e uma retaliação por parte de um deles que acabou com alguém inconsciente na sargeta. Já dizia o poeta "A violência é tão fascinante/E nossas vidas são tão normais/E você passa de noite e sempre vê/..." Procurei não olhar diretamente para eles, pois já sei como é que é, mas também procurei não ficar olhando para o chão ou para o horizonte como um bobo perdido. eu podia tá bêbado, chapado, mas não estava louco de deixar me levarem assim tão fácil, mesmo já sabendo que eu não teria chance alguma. De relance, dava pra ver que aqueles caras eram feios, mal encarados e que não me deixaram andar com eles por compaixão ou empatia. era só por causa do dinheiro e ai de mim se não lucrassem com minha investida na boca de fumo.
Um lado do carreiro dava pra uma valeta que fedia a merda, um lugar horrível para ser jogado depois de apanhar, do outro barracos no escuro, pequenos fachos de luz aqui ou ali, 50 ou 60 metros assim na escuridão. o carreiro e a valeta davam pro rio Belém. Barro, muito barro no chão, galhos e pedaços de madeira também. e quatro ou cinco sujeitos que fediam igualmente mal. Andamos quinze metros indo à beirada do rio e encontrei um bom espaço aberto, coberto o chão de grana e barro molhado e mais sujeitos de péssima reputação. ARMAS, FUMAÇA DE CRACK, GRUPINHO EM TORNO DE UM SOFAZINHO VELHO, UM AR DE DESCONFIANÇA, OLHARES SORATEIROS SOBRE MIM E AQUELE CHEIRO DE MERDA DO RIO. Um cara chegou perto e foi que comecei a ouvir ameaças para nunca mais voltar lá, para agradecer a Deus por não levar um tiro (eu mesmo, na hora, ficaria sóbrio com tudo aquilo se não tivesse tão chapado). No final das contas: eu estava vivo. É, EU SAI DE LÁ VIVO E PEGUEI AS QUATRO PEDRAS! Pro meu azar uma caiu no chão na hora que ele me entregou (claro, que eu não fui procurar, eu só queria sair dali), outra dei para aqueles que me levaram até lá. fiquei com duas, abri a primeira e estava vazia, só tinha papel alumínio lá e o cheiro forte da droga. A outra fumei para realizar a fantasia de que eu estaria plenamente satisfeito fumando a última dose da madrugada... mas não estava.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

1º de janeiro

RUM NA PRAIA

ERA o primeiro dia do ano. e minha cabeça explodia, e ainda eram nove horas da manhã. E eu já estava de pé. Aquele quarto onde eu estava parecia um cárcere. Dois triliches feitos de madeira (deve ter sido o dono da pensão quem fez com as próprias mãos), em um metro e meio por cinco. Sem janelas, só uma porta. fui para o bar, ao lado da pensão, e peguei uma lata de cerveja. Quando voltei estavam todos acordados. Vitor, Camila, Jaque., (nos perdemos, de madrugada, pelas ruas de Guaratuba. e ficamos zanzando por umas 2 horas até acharmos a casa) mais um casal e outro cara (uns chatos) levantaram. Tateei até a mesa que ficava no quintal – lembrei da cadeira que levei embora da beira da praia (droga, quê que eu fiz?) – e logo chegou minha namorada (?). me olhando com desprezo, ironia e um pouco de compaixão, talvez. foi ai que entendi que terminamos...

Ela me recriminou pelas baixarias da noite anterior. Ela me olhava como um amigo olha para outro que está no fundo do poço. E tudo o que fiz foi por amar ela e por ciúmes, insegurança, fraqueza. Merda. Eu já não podia mais viver com aquilo, sou um solitário por natureza. não dei para ela nem um tchau e sai pra comprar outra cerveja. Não dava mais prar ficar lá, ao lado dela. me olhando assim, daquele jeito. Eu precisava de ar e de cigarros. Não vendiam cigarros no bar! Andei sem direção vendo as mulheres, outra pensão (pra ficar), o mar, outros bares para beber. Caminhei, assim, sem pressa e sem porquê até chegar à rodoviária. Tomei outra cerveja e comprei minha carteira de Marlboro. Já passava do meio-dia. Eu pensei que ela poderia precisar de passagem, por isso tentei ligar pro seu celular. Tocou, tocou e ninguém atendeu. Pra mim esse foi um sinal.

Tomei outra. Liguei de novo. Nada. Fiquei num bar muquifa até não me reconhecer mais. Tomei outra e fui sentar no banco do ponto de ônibus. Um casal de velhinhos, com uns setentas anos, no mínimo, começaram a falar comigo. Eram muito gentis – não tive como ficar me remoendo com meus desgostos e não ser pelo menos gentil também. – Falamos sobre suas netas, sobre Guaratuba e Sta. Catarina, faculdades, festas de fim de ano. Depois eu peguei o meu ônibus e fui-me embora.

Ao chegar na pensão, depois de descer no ponto errado e caminhar um monte pedido, de novo, não encontrei ninguém. Lembrei-me daquela garrafa de rum guardada na minha mochila. um pouco de Fanta laranja e ficou ótimo, tudo dentro de um copão, enorme, feito de meia garrafa de refrigerante descartável. Fui tomando até que acabou, preparei outra, voltei para a frente da pensão. A rua era horrível, de areia, esburacada, sem viva alma (e era ano novo!). até que chegou o meu amigo Vitor, o motivo dos meus piores ciúmes. Fiz ele beber comigo. Ele falou que estavam me procurando. Que passaram a tarde toda no El Rancho, à beira mar. Eu não queria saber de ninguém. Só de beber, beber, ..., morrer. Eu a amava e vivíamos em conflito. Eu não mudava, ela não mudava. O amor enfraquecia depois de anos. Estávamos bebendo quando a Jaque. chegou, ela era bem doidinha e ficava sempre sorrindo da minha cara de bêbado.

eu podia esquecer de tudo durante uns dias na cama com ela. mas isso não aconteceu. Por que eu não quis, eu sei: eu sou um idiota. Eles foram chegando, aos poucos, e me viam bêbado, de novo, na frente da casa. Eu estava cagando para eles... depois de anos de uma relação tumultuada – com indas e vindas, e olha que tivemos momentos ótimos – ela entrou, na casa, sem tomar consciência da minha existência ali. Ficou um minuto ou dois lá dentro e saiu como um furacão. Furiosa. Corri atrás dela e comecei a falar. Ela não me deu atenção. Aí eu percebi que tudo que estava falando para ela não era o que eu queria “realmente” falar, eu nao conseguia “rasgar” o peito e falar tudo estava guardado. Nada de sincero saía. – não era pra ser... – Então entrei e xinguei ela, até cansar a boca, para todos ouvirem, na espera de que quem gostasse dela me partisse a cara. Uns riam da cena, outros me evitavam. Aí, arrumei a minha mochila e voltei para a rodoviária, troquei minha passagem para aquela noite. Às nove entrei no ônibus, o céu estava todo negro com a Lua cheia. Dormi então a viagem inteira e quando cheguei a Curitiba, aquela cidade já me parecia muito diferente.


RUM NA PRAIA

CWB

Jun/2007