sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
FLOR DA PRIMAVERA
O VINHO TRANSBORDOU DO COPO
Clara estava na entrada da casa, próxima do portão, terminava seu cigarrinho quando veio me cumprimentar com aquele seu abraço sincero que só ela tinha, me perguntou o que eu estava fazendo – o de sempre. Trabalhando com meus textos, com meus quadros. Dormindo e bebendo muito – Lá pelas tantas, todos mais alcoolizados, felizes, sinceros, eu soube que estavam fazendo uma aposta absurda, queriam ver quem cairia de bêbado primeiro. Na última festa eu dormi sentado na cadeira, quando me acordaram, eu tentei me levantar e cai de testa no chão. Não quis me levantar mais e fiquei lá. Como uma criança dormindo no berço. Tive um rasgo horrível na testa que eu tapei com o boné durante uma semana.
Pan estava lá com a família (pai, mãe, irmã, avô, avó). Era uma verdadeira dama rodeada de mulheres e crianças. Estavam ao redor da pista de dança. Ouvimos de tudo: Creedence, Natirus, Chitãozinho & Chororó, enfim. Até funk teve. Foi quando ela se levantou e foi dançar. Pensei: cara, olha como ela dança. – Eu não aprendi a dançar, estava ocupado com coisas maiores. como disse Bukowski – mas era lindo vê-la. Pensei: ela dança como eu escrevo. Eu já a conhecia, tínhamos conversado e rido juntos. Eu adorei as coxas dela, os olhos bem azuis e os cabelos negros. Fui um voyeur vendo-a dançar à vontade. Seu olhar, logo, se encontrou com o meu e percebi que ela sorria para mim.
No fim da festa fomos tomar a saideira, uns chamavam-na de caideira, na casa do Felipe e da Cláudia. Felipe apostou em mim, 50 reais. E perdeu porque eu não caí. Ela foi no carro deles com as crianças e eu fui noutro. Pedro é um cara difícil de você não gostar. Ele me deu uma carona e ficamos conversando sobre o lendário bagulho da lata, até a hora que a sua mulher quis ir embora dormir. Esse bagulho tinha história, era uma maconha e diziam ter sido jogada no rio afim de dispensar o flagrante por um navio holandês, o que era verdade ou mentira era difícil saber, uns diziam ter fumando tabletes dessa maconha, outros que fumou apenas uma raspa dela mas que foi uma experiência incrível, de horas de pura alucinação. Quando vi isso já eram umas quatro da madrugada. No fim ficou para beber a última cerveja eu, Felipe e a Pan. Dois cariocas, parentes, e foi sobre música que conversamos. Samba. Quando ele foi dormir, nossos olhos se colaram. Daquele jeito. O meu e o da Pan. O escritor, aqui, teve pouco para falar naquela hora e ela parecia sem ação. Sabíamos o que ia acontecer, falei para ela sobre paixão e ela se rendeu. Nos beijamos e tudo fez sentido, naquela noite.
*
Mas no outro dia tudo deu errado. Quando eu acordei, Pan já estava fazendo papinha para Camila, no resto da manhã eu e Felipe ficamos assistindo a formula 1 enquanto ela e Cláudia lavavam a louça e preparavam o almoço. Uma garrafa de cerveja sobrou da noite anterior. conversávamos, apesar da ressaca coletiva, apenas as crianças estavam salvas. Pan dormira muito pouco, mas não bebera muito naquele casamento. E foi durante um bate papo massante entre pessoas que acordaram sob o efeito do álcool, que as coisas começaram a desmoronar. ela começou a questionar-me sobre minha vida, ela queria saber quando eu iria arranjar um emprego, por que larguei duas faculdades e por que eu bebia tanto. Três respostas hesitantes foram o suficiente para ruim a paixão. JESUS CRISTO! IMAGINE-ME CASADO COM ELA! SERIA UMA BRIGA DAS BOAS! E o pior é que ela devia ter alguma razão... ela ficou xoxa, é verdade. me aproximei dela depois do almoço e percebi que apenas o tesão por sexo ficara sob sua pele. Os dias que se passaram provaram que nem isto resistiu. Semanas depois nos encontramos, cada qual com sua nova companhia, entre dentes amarelos, nos cumprimentamos.
Fui pra casa e quando cheguei à soleira da minha porta, me vi retratado ali: entre cervejas espalhadas pela sala, dois caras estatelados no sofá esperando alguma coisa, livros e papeis , também, jogados por todos os lados. Na cozinha, duas amigas fazendo hora: esperando que o Caio, um dos caras, se levantasse e fizesse suas pequenas tatuagens. Dois quadros inacabados e um filhote de vira-lata. Por esse dias estavamos comendo o pão que diabo amassou quando o dinheiro da cerveja já era minguado e passávamos a destilados quase todos dias, ah! e o aluguel também atrasara e começaram as discussões e conversas com o locatário, o curso de pintura foi pras cucuias. Voltar a trabalhar carregando caminhões pra sobreviver se tornava necessário. ou serviços iguais, serviços de animais enjaulados. A poupança acabara, o sonho persistia bravamente. e a vontade de respirar tornou-se crime de vadiagem e inadimplência. Nem o Caio conseguia mais manter o ritmo de duas ou três tatuagens por semana. O Luís, o outro cara, ironicamente, era o único que tinha carteira assinada, só que gastava muito dinheiro na zona perto de casa... as meninas agradeciam.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
TRÊS DROGADOS
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
1º de janeiro
ERA o primeiro dia do ano. e minha cabeça explodia, e ainda eram nove horas da manhã. E eu já estava de pé. Aquele quarto onde eu estava parecia um cárcere. Dois triliches feitos de madeira (deve ter sido o dono da pensão quem fez com as próprias mãos), em um metro e meio por cinco. Sem janelas, só uma porta. fui para o bar, ao lado da pensão, e peguei uma lata de cerveja. Quando voltei estavam todos acordados. Vitor, Camila, Jaque., (nos perdemos, de madrugada, pelas ruas de Guaratuba. e ficamos zanzando por umas 2 horas até acharmos a casa) mais um casal e outro cara (uns chatos) levantaram. Tateei até a mesa que ficava no quintal – lembrei da cadeira que levei embora da beira da praia (droga, quê que eu fiz?) – e logo chegou minha namorada (?). me olhando com desprezo, ironia e um pouco de compaixão, talvez. foi ai que entendi que terminamos...
Ela me recriminou pelas baixarias da noite anterior. Ela me olhava como um amigo olha para outro que está no fundo do poço. E tudo o que fiz foi por amar ela e por ciúmes, insegurança, fraqueza. Merda. Eu já não podia mais viver com aquilo, sou um solitário por natureza. não dei para ela nem um tchau e sai pra comprar outra cerveja. Não dava mais prar ficar lá, ao lado dela. me olhando assim, daquele jeito. Eu precisava de ar e de cigarros. Não vendiam cigarros no bar! Andei sem direção vendo as mulheres, outra pensão (pra ficar), o mar, outros bares para beber. Caminhei, assim, sem pressa e sem porquê até chegar à rodoviária. Tomei outra cerveja e comprei minha carteira de Marlboro. Já passava do meio-dia. Eu pensei que ela poderia precisar de passagem, por isso tentei ligar pro seu celular. Tocou, tocou e ninguém atendeu. Pra mim esse foi um sinal.
Tomei outra. Liguei de novo. Nada. Fiquei num bar muquifa até não me reconhecer mais. Tomei outra e fui sentar no banco do ponto de ônibus. Um casal de velhinhos, com uns setentas anos, no mínimo, começaram a falar comigo. Eram muito gentis – não tive como ficar me remoendo com meus desgostos e não ser pelo menos gentil também. – Falamos sobre suas netas, sobre Guaratuba e Sta. Catarina, faculdades, festas de fim de ano. Depois eu peguei o meu ônibus e fui-me embora.
Ao chegar na pensão, depois de descer no ponto errado e caminhar um monte pedido, de novo, não encontrei ninguém. Lembrei-me daquela garrafa de rum guardada na minha mochila. um pouco de Fanta laranja e ficou ótimo, tudo dentro de um copão, enorme, feito de meia garrafa de refrigerante descartável. Fui tomando até que acabou, preparei outra, voltei para a frente da pensão. A rua era horrível, de areia, esburacada, sem viva alma (e era ano novo!). até que chegou o meu amigo Vitor, o motivo dos meus piores ciúmes. Fiz ele beber comigo. Ele falou que estavam me procurando. Que passaram a tarde toda no El Rancho, à beira mar. Eu não queria saber de ninguém. Só de beber, beber, ..., morrer. Eu a amava e vivíamos em conflito. Eu não mudava, ela não mudava. O amor enfraquecia depois de anos. Estávamos bebendo quando a Jaque. chegou, ela era bem doidinha e ficava sempre sorrindo da minha cara de bêbado.
eu podia esquecer de tudo durante uns dias na cama com ela. mas isso não aconteceu. Por que eu não quis, eu sei: eu sou um idiota. Eles foram chegando, aos poucos, e me viam bêbado, de novo, na frente da casa. Eu estava cagando para eles... depois de anos de uma relação tumultuada – com indas e vindas, e olha que tivemos momentos ótimos – ela entrou, na casa, sem tomar consciência da minha existência ali. Ficou um minuto ou dois lá dentro e saiu como um furacão. Furiosa. Corri atrás dela e comecei a falar. Ela não me deu atenção. Aí eu percebi que tudo que estava falando para ela não era o que eu queria “realmente” falar, eu nao conseguia “rasgar” o peito e falar tudo estava guardado. Nada de sincero saía. – não era pra ser... – Então entrei e xinguei ela, até cansar a boca, para todos ouvirem, na espera de que quem gostasse dela me partisse a cara. Uns riam da cena, outros me evitavam. Aí, arrumei a minha mochila e voltei para a rodoviária, troquei minha passagem para aquela noite. Às nove entrei no ônibus, o céu estava todo negro com a Lua cheia. Dormi então a viagem inteira e quando cheguei a Curitiba, aquela cidade já me parecia muito diferente.
CWB
Jun/2007